terça-feira, 11 de março de 2014

Mar Português

(Óleo de Carlos Alberto Santos)

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa Pessoa, F. Mensagem. Poema X Mar Português. Edições Ática: Lisboa. 1959.


Comentários:

Este é o poema principal da Segunda Parte de Mensagem (porque a ela deu o nome) e também o poema breve mais conhecido da lingua portuguesa. É incomparável em simplicidade e beleza e também na sucessão de grandes frases: "Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!", "Tudo vale a pena se a alma não é pequena", "Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor" e "Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu".

"quem quer passar além do Bojador..."- o Cabo Bojador, na costa africana, era considerado o limite do mar navegável porque, dizia-se, os ventos e as correntes impossibilitariam o regresso de quem o dobrasse. Quando Gil Eanes finalmente navegou para além do Bojador e voltou, foi ultrapassada uma barreira psicológica capital. Neste poema, o Bojador simboliza todos os desafios que houve que vencer no esforço das Descobertas, independentemente do custo humano.

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